Foto extraída de: https://tordesilhas2010.wordpress.com/
JORGE MELÍCIAS
( Portugal )
Jorge Melícias é um poeta português nascido em 1970, em Coimbra.
Apesar de que aqui no Brasil seja difícil o acesso aos seus livros de poesia (nada consta na Estante Virtual ou na Livraria Cultura, por exemplo), não se trata de um poeta iniciante. Formado em História (sem nunca, porém, ter exercido atividade na área), ele trabalha na editora Cosmorama/Universidade Católica e ministrando cursos extracurriculares (cinema e poesia/escrita criativa) em universidades. Como tradutor, verteu para o português Saint-John Perse, Lautréamont, Baudelaire, Leopoldo María Panero (deste último, o Rodrigo Madeira postou em seu blog uma tradução feita por Melícias), entre outros, e é autor de 7 livros de poesia própria: Aqueles que incendeiam os telhados (1996/1998, inédito), Iniciação ao remorso (1998, 2ª ed. pela Cosmorama em 2004), A luz nos pulmões (2000, Quasi), O dom circunscrito (2003, Quasi), Incubus (2004, Quasi), A longa blasfémia (2006, Objecto Cardíaco) e Felonia/Agma (2013, Cosmorama/UC), além da coletânea de poesia reunida, Disrupção – 1998/2008 (2009, Cosmorama). Teve poemas traduzidos para o espanhol, o inglês, o finlandês e até o servo-croata e o letão, e publicados em várias antologias e revistas, como a Inimigo Rumor, Confraria do Vento, Coyote e Zunái, isso só no Brasil. Quanto à crítica, tenho conhecimento de um ensaio na Zunái sobre ele, de autoria do crítico e poeta português Luís Costa, e de um livro, escrito por Daniel de Oliveira Gomes, intitulado A Poesia do Excesso: Rumo às Vísceras de Jorge Melícias.
Fragmento de biografia extraído de:
https://escamandro.com/2013/04/03/o-palavreado-de-jorge-melicias/
A mulher borda
violentamente
o ventre contra o chão.
É este o centro do círculo da loucura
e a luz está toda nos dedos.
O crime tem a idade do mundo, diz,
e recomeça a coser os pulsos
filho a filho.
A loucura agora é uma mão
cheia de sal
voltada para dentro.
Nenhum vaso se entorna
já em seu nome,
e sobre a mesa
os frutos estão fechados como pedras.
(In: Iniciação ao remorso (1998))
*
Na ponta dos dedos
batem as palavras sísmicas.
E a testa abre-se profusamente
à força do nome.
Só aquele que escreve infunde o prodígio,
respira ao cimo com a luz nos pulmões,
Atravessa como se florisse nos abismos.
(In: A Luz nos pulmões. (2000))
*
À beira das salinas os homens declinam.
De longe a longe vêm os filhos,
trazem a solidão como um metal aceso nas costas,
Trazem um enxame de dardos.
E a memória é um pulso atravessado.
Quando partem fecham atrás de si as portas,
e os homens voltam a sentar-se sobre as estacas
E brilham.
(In: A Luz nos pulmões. (2000))
*
Até que o silvo do metal
se acenda nos tendões
e tudo cante através do mínimo.
(In: O Dom circunscrito. (2000))
***
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Página publicada em novembro de 2021
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